Com Sorria (2022), o cineasta Parker Finn entregou uma estreia onde um parasita sobrenatural se alimenta dos traumas das pessoas, sugando sua saúde mental gota a gota. O efeito é uma mistura de loucura, paranoia e aquele sorriso congelado que parece arrancado do Coringa. Como uma doença ambulante, o demônio salta de vítima em vítima, mas apenas quando alguém presencia o suicídio de quem carrega a maldição.
Sorria 2 recapitula quando Joel (Kyle Gallner), o último que sobrou da carnificina anterior, agora vive atormentado por imagens de sua amiga possuída pegando fogo, como se as visões fossem uma reprise. E sua decisão de ir para um esconderijo rural em busca de paz se torna um grande erro. Como se estivesse tentando ajustar o carma todo, Joel decide que talvez seja justo passar o terror adiante para algumas almas “merecedoras”. Claro que a coisa toda desmorona, e o próximo alvo é seu próprio traficante, sem final feliz. Finn sabe manipular o terror visual pra entrar na nossa cabeça.
Então, Skye Riley (Naomi Scott) entra em cena: a cantora pop do momento, que quase morreu em um acidente de carro, tem cicatrizes da perda de seu namorado. Após um longo ano de reabilitação e trabalho na imagem pública, Skye prepara seu retorno triunfal, fazendo aparições no The Drew Barrymore Show – aplausos para Drew Barrymore, que aceitou interpretar a si mesma. Mas os desafios são brutais; sua mãe (Rosemary DeWitt), o assistente superprotetor (Miles Gutierrrez-Riley) e o investidor (Raúl Castillo) a pressionam para se manter nos trilhos, o que, como bem sabemos, é uma linha tênue para alguém que luta contra as dores físicas e mentais. É assim que, ao visitar seu fornecedor, ela acaba se encontrando com o novo portador desse tipo estranho de maldição — com direito a sorrisos demoníacos e uma sequência de eventos que não dão colher de chá para ninguém.
Com direito a cenas impactantes, Sorria 2 não decepciona quem veio atrás de mortes impactantes. Finn explora a intensidade dos surtos de Skye, com Scott provando que consegue tanto impressionar com performances explosivas quanto com as expressões alucinadas de quem foi empurrado ao limite. É um filme que sabe dosar terror com uma crítica mordaz ao mundo de excessos das celebridades, enquanto cada sorriso falso e cada alucinação trazem aquele frio na espinha que a franquia já sabe fazer bem.
O sarcasmo de Finn ao abordar a vida pública de uma estrela pop é brutal e dá à esta sequência uma profundidade que ninguém esperava. Skye, entre alucinações e cenas de terror puro, lida com uma mãe sufocante e uma série de parasitas que exploram a imagem pública. Em uma das cenas mais tensas, vemos como o rosto de cada assessor e fã se deforma em um sorriso que parece uma máscara infernal, mostrando o lado sombrio da fama, onde o show business é tão ou mais traiçoeiro que o próprio demônio. Ao se aprofundar nesse aspecto, Finn traz o terror psicológico e expõe o próprio sistema que cria esses ídolos, mostrando que a máquina da fama é, em si, um terror diário, onde qualquer deslize pode ser engolido e retransmitido para o mundo.
A câmera de Finn acompanha cada intensidade com ângulos estratégicos que transformam o ambiente em um verdadeiro labirinto mental. Enquanto Skye enfrenta a pressão de um retorno à mídia, a opressão visual cresce, com composições de câmera que captam o pânico e a paranoia de um modo quase íntimo. A trilha sonora de Cristobal Tapia de Veer, que combina sons que lembram O Iluminado, aumenta o sentimento de desorientação. Finn manipula as cenas como quem se diverte com o medo alheio, o que me deixou impressionando quanto à realidade e imprevisibilidade do filme.
O momento em que Skye confronta seus próprios dançarinos em uma sequência digna de pesadelos prova o talento do diretor norte-americano para misturar realidade e terror de forma claustrofóbica, onde nada é mais assustador do que a própria exposição pública. Sorria 2 não é apenas um terror para passar o tempo. É uma reflexão perturbadora sobre os nossos próprios sorrisos artificiais e sobre como a sociedade está disposta a sugar cada pedaço de uma estrela até que não sobre mais nada, além do riso sinistro que fará você tremer de medo.
Sorria 2 está disponível no Arcoplex Cinemas do Shopping do Vale.