Serviço essencial

*Por Eduardo Stelmack

Chovia forte quando vi pela janela o gari ensopado correndo com sacolas de lixo atrás do caminhão. Recolhendo o meu lixo e o seu lixo. Muitos de nós talvez não os avistem devido ao privilégio de poder dormir um pouco a mais — e mesmo assim reclamar que precisamos acordar cedo —, enquanto os “lixeiros”, como são conhecidos, estão praticamente fazendo uma maratona para manter as ruas limpas.

Se tem um serviço que também está entre os essenciais é o deles. Mais essencial do que a maioria das coisas que consumimos e que, ao descartar os restos, poucos de nós sequer separam o que é seco do que é orgânico para contribuir com esse trabalho essencial.

Vendo o homem correndo pelas ruas coletando as sacolas de lixo lembrei da visita que fiz ao aterro sanitário de Gravataí, onde cooperativas trabalham para separar o que jogamos fora. Manualmente separam minuciosamente os materiais em meio a um forte cheiro de coisa podre. Mas é o trabalho deles e eles o cumprem.

Também lembrei dos urubus que são vistos neste mesmo aterro, tentando encontrar aquele resto de comida que você desperdiçou.

“Manualmente separam minuciosamente os materiais em meio a um forte cheiro de coisa podre.”

Não pude deixar de lembrar também dos trabalhadores lá do aterro almoçando suas marmitas no mesmo local de trabalho, próximos do lixo e do mal cheiro e, inevitavelmente, dos urubus.

Se você não conhece o local não terá essas lembrança, mas ao menos tente imaginar a delicada e complexa tarefa realizada por essa galera na próxima vez que for amarrar a boca do seu saco de lixo enquanto reclama por causa dos shoppings fechados.