Que corrida mais turbulenta para chegar até o Oscar 2025! Quando as indicações foram anunciadas, há pouco mais de um mês, já sabíamos que a disputa não teria um favorito claro. Mas então, em uma reviravolta inesperada, surgiu O Brutalista, o filme de Brady Corbet que mistura o melhor do melodrama dos anos 1950 e os épicos melancólicos dos anos 1970, um feito de visão e estilo que não foi surpresa para ninguém que acompanha o cinema de perto. Mas o verdadeiro choque veio com Emilia Pérez, o musical de Jacques Audiard que conta a história de um traficante mexicano transgênero e que, em meio a controvérsias culturais e com o burburinho sobre o filme diminuindo antes do fim de 2024, parecia fadado a algumas poucas indicações. No entanto, o inesperado aconteceu: depois de uma série de vitórias no Globo de Ouro, o filme ressurgiu com força total, acumulando uma dúzia de indicações e mexendo com as estruturas da premiação.
Tivemos o grande sucesso de bilheteira de Hollywood, Duna: Parte Dois, uma continuação que não se arrisca, mas promete preencher os cofres e os corações dos fãs da saga. Depois, vem Wicked, um espetáculo que já entrou na categoria de gerar uma grande bilheteria. Aí temos o tradicional filme biográfico, Um Completo Desconhecido, onde você sabe exatamente o que esperar, principalmente quando queremos ver a vida de Bob Dylan nas grandes telas. Já Conclave entrega exatamente isso, com um ar de sofisticação que só aumenta a nossa reação.
Não podemos esquecer de A Substância, o filme meta-showbiz que se propõe a colocar o “selvagem” de volta ao jogo, uma tentativa óbvia de dar uma sacudida no mainstream com o brilho e a febre dos bastidores de Hollywood. E, finalmente, temos o brasileiro Ainda Estou Aqui, que ninguém apostava, mas que com o apoio de um grande estúdio, se vê nas luzes da ribalta, trazendo um toque de “cultura global” para o tapete vermelho. Também há Nickel Boys, que se encaixa perfeitamente no molde do “filme de prestígio” que molda à perfeição para temporadas de premiações — ao menos na teoria. E temos o independente Anora, que com um pouco de sorte e aquele esforço desesperado de quem luta para ser visto, poderia ser, quem sabe, alcançar um grande feito.
Tudo começou a ser levado a sério, e foi aí que o verdadeiro circo de altos e baixos se desenrolou. O Brutalista teve seu nome manchado por uma simples menção à IA de pós-produção, algo que parecia inofensivo, mas que rapidamente virou um desastre de imagem, como se a tecnologia tivesse virado um monstro devorador de reputações. A coisa piorou para Emilia Pérez quando uma tempestade de posts antigos nas redes sociais e uma estrela rebelde se uniram para enterrar suas chances de vitória — um golpe certeiro no que parecia ser a queridinha do momento. Mas, como se não fosse o bastante, Anora e Ainda Estou Aqui também enfrentaram suas próprias batalhas contra esqueletos no armário, com críticas sobre suas lideranças que sugeriam que, na verdade, outra produção poderia dar uma virada histórica. Tudo parecia de novo no lugar, até que o BAFTA resolveu premiar o prêmio principal de Melhor Filme para… Conclave. O suspense também levou na categoria de Melhor Elenco no SAG Awards.
Foi o suficiente para deixar qualquer um tonto, ou pelo menos fazer você sentir que o intervalo entre o anúncio das nomeações e a próxima cerimônia em 2 de março deveria ser quatro vezes maior do que realmente é. Uma verdadeira montanha-russa de emoções, e agora vamos para o que realmente interessa a todos que amam cinema. A votação acabou, e com menos de uma semana até que os envelopes comecem a ser rasgados com pressa, achamos que já temos uma boa noção de quem vai sair dançando de felicidade na grande noite do Oscar — com uma exceção que ainda é um mistério. Aqui estão nossas apostas para os vencedores nas seis principais categorias, quem achamos que realmente deveria levar a estatueta, e, claro, quem seria o nosso sonho de ganhador.

Melhor Filme Internacional
Ainda Estou Aqui (Brasil)
A Garota da Agulha (Dinamarca)
Emília Pérez (França)
A Semente do Fruto Sagrado (Alemanha)
Flow: À Deriva (Letônia)
Para o Oscar de Melhor Filme Internacional, tem cinco filmes poderosos. Cinco grandes filmes e com grande potencial para levar a estatueta. Pense na inventividade desses filmes e na incrível capacidade de transmitir a realidade de seu país de origem. Ainda Estou Aqui dispensa comentários, já tenho falado demais sobre o filme que aborda um momento sombrio e o Caso Rubens Paiva; o badalado e multipremiado Emília Pérez; o drama dinamarquês A Garota da Agulha; a crítica explosiva ao governo teocrático do Irã em A Semente do Fruto Sagrado e a inventividade e sensibilidade na animação Flow: À Deriva, que traz a conscientização sobre o meio ambiente, e coloca a Letônia no mapa cinematográfico. Todos eles são incríveis, mas sabe como é — eu preciso dar minha opinião. Difícil.
Quem vai ganhar: Emília Pérez. Por mais que o filme de Jacques Audiard tenha ido do céu ao inferno em uma velocidade vertiginosa, somado às polêmicas xenófobas e antissemitas de Karla Sofía Gascón, o filme francês está conquistando as categorias nas principais premiações. Infelizmente, Emília Pérez está sendo julgado por conta das atitudes de Gascón. Acima de tudo, é um grande filme. Ponto final.
Quem deve ganhar: Ainda Estou Aqui. Com o lançamento do filme de Walter Salles nos Estados Unidos e o reconhecimento do público norte-americano, a história caiu nas graças dos especialistas, incluindo um grande apoio da Vanity Fair ao colocar o longa brasileiro como favorito.
Quem queremos ganhar: Ainda Estou Aqui, por um senso de justiça ao Brasil e à Montenegro, que tem sido ignorado pela Academia. Com o cinema indiano (Quem Quer Ser um Milionário?) e a ascensão do cinema asiático nos últimos anos (Parasita), pode ser que a Academia seja mais resiliente em relação a uma história brasileira sensível que está tocando os americanos. Seria histórico!

Melhor Diretor
Brady Corbet, O Brutalista
Jacques Audiard, Emília Pérez
Sean Baker, Anora
Coralie Fargeat, A Substância
James Mangold, Um Completo Desconhecido
Briga de cachorro grande, sem dúvida. A cineasta francesa, responsável por um verdadeiro banho de sangue na tela e um tsunami de plasma em O Iluminado, agora pode ser chamado de “Coralie Fargeat, indicada ao Oscar”, e isso nos enche de uma alegria quase surreal. Mangold tem seus altos e baixos ao longo da carreira, mas a habilidade dele em ajustar um modelo de cinebiografia musical que ele mesmo ajudou a moldar, adaptando ele ao seu sujeito enigmático, é algo digno de aplausos. Pode-se gostar ou não de Emília Pérez, mas não dá para negar a coragem de Audiard em se recusar a ser definido como um autor fixo. Mas, no final das contas, tudo se resume a Corbet e Baker nessa disputa, e o vento parece estar soprando forte na direção deles.
Quem vai ganhar: Sean Baker. Uma vitória mais do que merecida, considerando como esse veterano diretor independente mistura drama intimista, comédia insana, realismo local e uma humanidade pungente no seu conto de fadas sobre trabalhadoras do sexo à beira do caos. O fato de ele ter levado tanto o Directors Guild Award quanto o Producers Guild Award dá uma pista clara de que o primeiro Oscar pode estar ao seu alcance.
Quem deve ganhar: Brady Corbet. O que ele faz com a composição visual, o alcance da narrativa e a ousadia de abordar a história de um imigrante em um épico de três horas e meia em O Brutalista é, no mínimo, uma conquista única. E isso sem contar o orçamento enxuto do filme! Não seria surpresa ver os eleitores distribuindo a premiação entre Melhor Filme e Melhor Diretor, e seria fascinante ver Corbet levando o prêmio de Melhor Diretor enquanto o filme de Baker conquista o principal, ou o contrário.
Quem queremos ver ganhar: Coralie Fargeat. Porque A Substância é puro caos, e a ideia de uma cineasta de gênero feminino ganhando esse prêmio, em especial, tem um apelo todo seu. Não necessariamente nessa ordem, mas é difícil separar uma coisa da outra.

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Zoe Saldaña, Emília Pérez
Isabella Rossellini, Conclave
Ariana Grande, Wicked
Monica Barbero, Um Completo Desconhecido
Felicity Jones, O Brutalista
Sou péssimo com piadas, mas essa aqui seria um ótimo começo: “Uma bruxa, uma cantora folk, uma advogada, uma freira e uma sobrevivente do Holocausto entram em um bar…” A competição de Melhor Atriz Coadjuvante deste ano tem uma versatilidade impressionante, com performances que vão de números da Broadway a músicas de protesto. Mas, curiosamente, apenas uma das indicadas teve que se virar com um número musical inteiro sobre vaginoplastias. E, de maneira estranha, é ela quem parece estar mais perto de levar para casa o cobiçado Oscar na noite da grande cerimônia.
Quem vai ganhar: Zoe Saldaña. A atriz conseguiu navegar com maestria pelas repercussões dos tuítes polêmicos de sua colega de elenco, Karla Sofía Gascón, e agora está em plena ascensão. Com vitórias no BAFTA, Globo de Ouro, Critics’ Choice e SAG Awards no bolso, parece que colocar um Oscar a essa coleção é quase uma certeza neste ponto.
Quem deve ganhar: Isabella Rossellini. Conclave pode ter suas falhas, mas Rossellini definitivamente não é uma delas. Ela tira o máximo proveito de seu tempo limitado de tela e entrega o que poderia ser a definição de uma atuação coadjuvante sólida. Mesmo que o prêmio fosse visto como uma vitória mais dedicado ao seu “legado” (aquelas que celebram toda uma carreira, em vez de uma performance isolada), ainda assim seria mais do que merecido.
Quem queremos ver ganhar: Isabella Rossellini. Ela merece o Tocantins inteiro!

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Kieran Culkin, A Verdadeira Dor
Yura Borisov, Anora
Jeremy Strong, O Aprendiz
Edward Norton, Um Completo Desconhecido
Guy Pearce, O Brutalista
Difícil imaginar um grupo mais forte de performances para preencher essa categoria, e não faltam motivos para torcer por cada um dos indicados. Mas antes mesmo das nomeações oficiais, havia uma pessoa que já dominava a conversa, e com a quantidade de discursos emocionantes que Kieran Culkin já protagonizou nas premiações desta temporada, tudo indica que ele vai ter mais uma rodada de agradecimentos para soltar por aí.
Quem vai ganhar: Kieran Culkin. Depois de engolir um monte de prêmios dos críticos, um SAG, um Globo de Ouro, um BAFTA e um Critics’ Choice por sua performance zen e completamente fora de si em A Verdadeira Dor, de Jesse Eisenberg, este Oscar está basicamente no bolso dele — a não ser que algo muito inesperado aconteça…
Quem deve ganhar: Kieran Culkin. Se você viu A Verdadeira Dor, sabe bem o que estou falando. No entanto, para aqueles que não viram — assistam!
Quem queremos ver ganhar: Estamos diante de uma das seleções mais impressionantes de Melhor Ator Coadjuvante em quase uma década — então, no fim das contas, ficaremos satisfeitos com quem levar a estatueta. Mas, pessoalmente, estamos divididos entre Kieran Culkin e Guy Pearce. Ambos entregaram o melhor trabalho de suas carreiras nos respectivos filmes, e ambos nos lembraram que as atuações mais intrigantes, complicadas, subversivas e de cair o queixo não acontecem necessariamente no centro do palco, mas nas margens. E, claro, a interpretação de Pearce como um titã tóxico da indústria americana é de dar calafrios.

MELHOR ATRIZ
Karla Sofía Gascón, Emília Pérez
Demi Moore, A Substância
Cynthia Erivo, Wicked
Fernanda Torres, Ainda Estou Aqui
Mickey Madison, Anora
Enquanto Fernanda Torres e Cynthia Erivo têm uma chance legítima de surgir do nada e garantir uma vitória (e, claro, todos lembramos o que rolou com Gascón), a verdadeira corrida está entre Demi Moore e Mikey Madison. A veterana de Hollywood fez um retorno explosivo com uma performance simplesmente extraordinária em A Substância, e, sejamos honestos, Hollywood adora uma fênix renascendo das cinzas no terceiro ato. Mas o showbiz também ama recompensar as estrelas em ascensão, e, considerando como Madison arrasa em um papel tragicômico difícil, encantou os eleitores em eventos e tem feito campanha com aquela energia equilibrada, ela tem uma chance real de sair vencedora. Agora, tem uma coisinha: um setor da Academia tem essa reação automática a filmes de terror, principalmente os mais pegajosos e sangrentos. E isso pode dar a Madison uma ligeira vantagem.
Quem vai ganhar: Mikey Madison. O SAG e o Globo de Ouro podem ter dado a vitória a Moore, mas Madison está surfando em uma maré de boa vontade, com um BAFTA no bolso e o amor dos eleitores pelo filme da trabalhadora do sexo com o coração de ouro. E a maneira como ela domina a última cena…?
Quem deve ganhar: Demi Moore. Viva A Substância!
Quem queremos ver ganhar: Fernanda Torres! Fernanda Torres! Fernanda Torres! Mesmo que Madison e Moore tenham chamado atenção e se utilizado de suas identidades norte-americanas, o Oscar de Melhor Atriz precisa ser entregue a Torres por justiça! A Academia praticamente realizou uma das maiores injustiças da história das premiações ao não dar a Fernanda Montenegro, mãe de Torres, a estatueta de Melhor Atriz por Central do Brasil. Principalmente em uma atuação tão contida, que chega a doer em nossos corações. Com Torres como vencedora, é um grande pedido de desculpas da Academia ao Brasil.

MELHOR ATOR
Colman Domingo, Sing Sing
Ralph Fiennes, Conclave
Sebastian Stan, O Aprendiz
Timothee Chalamet, Um Completo Desconhecido
Adrien Brody, O Brutalista
Tanto Adrien Brody quanto Timothée Chalamet geraram um burburinho instantâneo sobre o Oscar assim que O Brutalista, de Brady Corbet, e o filme biográfico de Bob Dylan, Um Completo Desconhecido, chegaram aos cinemas. Embora a palavra “retorno” não se encaixe tão bem na narrativa de Brody como se encaixa na de Moore na categoria de Melhor Atriz, sua performance como um imigrante húngaro em busca do Sonho Americano — e engasgando no processo — com certeza fez os espectadores lembrarem do seu potencial como protagonista. Ele já está recebendo as suas flores antes do grande show. Mas não podemos ignorar o apoio crescente a Chalamet nesta categoria; papéis principais em filmes biográficos musicais sempre têm uma boa chance no Oscar, e, embora ganhar o SAG nem sempre seja garantia de vitória, sua vitória recente no prêmio sugere que ele é um concorrente de peso. Esta é, sem dúvida, a corrida onde parece que qualquer coisa pode acontecer.
Quem vai ganhar: Empate técnico entre Chalamet e Brody. Sinceramente, neste momento, estamos sem ideia de quem vai levar.
Quem deve ganhar: Adrien Brody. Nada contra Chalamet, que faz um trabalho brilhante (e um canto surpreendentemente bom) como Dylan em seu auge. Mas Brody dá uma reviravolta única nesta geração, trazendo à tona o melhor dos atores melancólicos, ao mesmo tempo em que se destaca de maneira própria. Definitivamente, é um trabalho que merece atenção.
Quem queremos ver ganhar: Chalamet. Brody realizou a melhor atuação de 2024, porém como eu amo Bob Dylan, ver Chalamet dando vida ao Bardo me deu uma grande nostalgia.

MELHOR FILME
Anora
O Brutalista
Um Completo Desconhecido
Conclave
Duna: Parte Dois
Emília Pérez
Ainda Estou Aqui
Nickel Boys
A Substância
Wicked
Metade das indicações parecia óbvia, enquanto a outra metade surpreendeu a todos. Sério, é quase ridículo que Conclave esteja nessa conversa, muito menos que, com os BAFTAs e uma vitória do SAG, esse filme esteja se posicionando como um possível azarão. Ficamos empolgados com Nickel Boys e Dune 2 entrando na disputa, e embora a Academia ainda tenha uma aversão imensa ao gênero de terror, ver A Substância garantir uma vaga é um passo importante. Também estamos batendo palmas para a Sony Picture Classics, que conseguiu incluir o brasileiro Ainda Estou Aqui na mistura. Mas, no fim, tudo se resume a Anora e O Brutalista neste ponto. E a mistura de drama sexualizado com uma consciência de classe que Anora traz realmente conquistou o público nesta temporada.
Quem vai ganhar: Anora.
Quem deve ganhar: O Brutalista.
Quem queremos ver ganhar: Todos os indicados. Apenas dê uma segunda olhada nesses 10 filmes. A ambição, a variedade, o talento nas telas, as habilidades em exibição — literalmente foi um ano excepcional. Se essa tal “forma de arte decadente” vai ressuscitar, que seja com essa seleção como um vento a favor de uma nova Era de Ouro. Já estamos mais que atrasados para ela.