O show da vida

*por Eduardo Stelmack

O termo Big Brother, antes de ser o nome do Reality Show recheado de bizarrices que conhecemos, foi o personagem do romance 1984, do escritor George Orwell. O Grande Irmão, no livro, representava um estado totalitário, na qual toda a população era constantemente vigiada e, sem direitos, continuamente manipulada ao bel prazer de seus governantes.

É preciso aprender as sutilezas de um convívio mais civilizado e harmônico, primeiramente respeitando o espaço do outro.

O livro foi escrito em 1949, mas expressa um conceito muito próximo ao contexto que vivemos hoje em dia, imersos em redes sociais, no qual nós sabemos de todos e todos sabem de nós. Basta ligar o celular que já descobrimos onde determinado amigo almoçou, com quem e qual foi o prato. E também se este almoço estava saboroso ou não. O lado bom é que isso acontece por livre e espontânea vontade, ninguém obriga as pessoas a estarem expostas. No entanto, quanto mais alguém se priva desta exposição, mais as críticas têm aumentado. Como se a pobre criatura estivesse cometendo algum tipo de erro por escolher não sair publicando sua vida em redes sociais. Alguns começam a pensar que esta pessoa não é feliz. Afinal, onde estão as fotos das viagens, das confraternizações, dos amigos secretos? Às vezes tenho a impressão que a felicidade de alguns não passa de um mosaico de imagens.

Obviamente, assim como não se pode criticar quem escolhe manter sua vida na discrição, também não é correto atirar pedras em quem adora ocupar centenas de gigabytes com imagens pessoais. Mas é preciso que o bom senso seja mais vezes utilizado. E o que vemos parece bem ao contrário. É como se a vida fosse um espetáculo. Se bem que a forma que andam as coisas, pode sim ser chamada de espetáculo.

Mas com essa imersão em uma vida cada vez mais transparente, é preciso aprender as sutilezas de um convívio mais civilizado e harmônico, primeiramente respeitando o espaço do outro. Depois, respeitando o seu próprio espaço, no sentido de se prevenir contra uma exposição extrema da vida pessoal, que pode até estar virando um espetáculo, mas não precisa ser gratuito.