Maxine Miller viveu uma longa e sombria noite, deixando seus colegas do entretenimento adulto para trás por causa de uma senhora texana psicopata. Aquele episódio ficou conhecido, como os jornais mesmo apelidaram, de “O Massacre da Estrela Pornô do Texas”, e mudou a vida de nossa personagem. Agora Maxine, mais conhecida por seu nome artístico Maxine Minx, deve suportar um ambiente tão horrível, tão assassino que suas chances de sobrevivência são provavelmente pouquíssimas: o mundo sombrio e perigoso de Hollywood. Três filmes depois, MaXXXine pode ter inúmeros significados. Pode ser uma homenagem aos filmes de terror dos anos 1980. Pode ser uma recriação fiel da vulgaridade vintage. Também pode ser o fim de uma grande trilogia de terror do século 21 e, exclusivamente, mais um testemunho que as coisas realmente se encaixam com a dupla cinematográfica composta pelo diretor Ti West e da atriz Mia Goth.
Assistimos a um filme em que sentimos uma alegria perversa ao ver um estuprador em potencial tendo seus testículos pisoteados em um close-up amoroso e assustador. A terceira colaboração entre os responsáveis que trouxeram para nós a onda grindhouse dos anos 1970 em X: A Marca da Morte e a perturbação singular e brilhante Pearl em apenas um ano, MaXXXine coloca fogo na sordidez provocada pela Hollywood do passado com uma intensa dedicação. E como West e Goth conseguem estabelecer todos esses arcos narrativos de época, a característica entre os pontos ligados entre o sexo e violência, pornografia e terror, agarramento público e comportamento predatório privado é o que faz do filme um sucesso estonteante de mistério gótico, definido em uma era Reagan rodeado por manchetes de assassinatos e a histeria do satanismo na televisão. Ainda assim, sua estética obscura e fontes retrô embelezam o ambiente oitentista das cores chamativas e das músicas das paradas de sucesso.
Imagine o quão difícil é a indústria de cinema, o quanto ela pode engolir todos os futuros talentos e o quão dependentes eles podem ser de magnatas que mandam de cima para baixo, escolhendo dedo a dedo a próxima femme fatale da vez. Então, nossa personagem está preparada para conquistar o mundo dos filmes convencionais. Felizmente para ela, um crossover em potencial aparece, na forma de um papel principal em A Puritana II, uma sequência de um grande filme de terror fictício. Quando Maxine realiza um teste na frente dos produtores, ela transforma um monólogo de filme em algo como no velho estilo dramático. Excelente trabalho para nossa personagem, mas agora eles estão pedindo para que ela tire sua blusa. A forma casual com que nossa heroína perde o topo, mas não a calma, sugere que ela está ciente de como as coisas funcionam em Hollywood.
Elizabeth Bender, diretora de A Puritana, e interpretada Elizabeth Debicki, vê um grande potencial em Maxine, sem mencionar sua história real. Ela consegue o papel e mais ou menos nessa época, porém, uma misteriosa fita cassete aparece na porta de Maxine. A fita presenta reportagens sobre aquele massacre horrível no Texas. Mas também há filmes caseiros antigos de Maxine fazendo uma dança quando era pequena, enquanto seu pai pregador elogia sua filha fora da tela e obriga ela a recitar um mantra. Ela repete: “Não vou aceitar uma vida que eu não mereço”. Tudo isso que está acontecendo na narrativa do filme pode ter algo a ver com um cara esquisito que está sempre à espreita — ele é interpretado por Kevin Bacon em uma forma estranhamente assustadora. Suas luvas pretas também se tornam atraentes, bem típico da década de 1980. Enquanto isso, muitos dos amigos e ex-colegas de Maxine começaram a aparecer mortos e há vários possíveis suspeitos por trás dessa campanha de assassinato direcionada, com a própria diretora e o agente de Mix vivido por um Giancarlo Esposito criminoso. Segundo o que as notícias transmitem na televisão, um assassino em série apelidado de “Night Stalker” está aterrorizando mulheres nas noites de Los Angeles.
A dupla de policiais, interpretados por Bobby Canavale e Michelle Monaghan, investiga a série de homicídios e não está acima de qualquer suspeita. West está menos interessado em quem fez isso do que em como eles fizeram isso, encenando mortes horríveis e trazendo referências a Psicose. O que Goth traz para esta onda totalmente retrô não pode ser subestimado por ninguém. Ela tem um jeito sutil de dar um perfil indomável à nossa personagem, principalmente uma imprevisibilidade e frieza que deixa Maxine entre a queridinha vítima e a mulher vingativa diante das telas. Embora não haja nada no nível semelhante ao monólogo climático de Pearl, Goth ainda transforma essa história de vingança em uma saga que contempla uma vitória pessoal e profissional para nossa protagonista.
Que MaXXXine termine com muito fogo infernal, isso não é nenhuma coincidência. A ação, combinada com cores obscuras para retratar uma década diferente, divide as ações do filme, distribuindo inteligentemente para que a história esteja equilibrada o bastante para o clima final. As referências cinematográficas, já citadas em algum lugar por aqui, são interessantes — principalmente quando o Bates Motel de Psicose é retratado aqui de uma forma bem peculiar com o terror existencial e misterioso de Maxine. Cada rua de Hollywood tem sua própria história e sua própria narrativa de terror, e é interessante como West e Goth conseguem fazer de MaXXXine um bom encerramento para esta história grindhouse.