Nas profundezas das florestas da Alemanha, existe um resort, um refúgio aninhado nos Alpes Bávaros. Saia do seu carro e você sente como se estivesse em um cartão-postal. Esperamos que homens erguendo caixas enormes nos cumprimentem enquanto caminham em direção ao saguão. É tão estranho e pitoresco que podemos não notar o barulho estranho que emana de dentro da floresta bem ao lado das casas de hóspedes. Esse ruído não é fraco, mas penetrante. Algo parece estranho naquele som, e a forma como as florestas, o verde alemão e uma estética elegante se contrasta com uma história tipicamente alemã para um filme de terror, que chama atenção.
O novo filme assustador do cineasta alemão Timan Singer (que ficou muito conhecido por sua outra obra, Luz), acontece dessa forma diligentemente peculiar. Uma olhada e perguntaremos quando o grande objeto de vilania fará sua presença ser notada. Não ajuda em nada o fato de que os habitantes do hotel tenham uma tendência a vagar pelo saguão e comecem a vomitar incontrolavelmente. Ou que os gritos perturbadores à distância fiquem cada vez mais altos, principalmente depois de escurecer. Ou que essas explosões sônicas tenham uma tendência a fazer com que os visuais do filme pulsem e retrocedam tudo de cinco a seis segundos.
Cuckoo traz esses tiques estéticos que Singer utiliza para sugerir que algo muito perverso está chegando, ou melhor, que algo literalmente estranho e perturbador está aqui pacientemente armando uma arapuca. Para tornar a narrativa em um mistério maior, os personagens daqui contém expressões tipicamente alemãs — olhos não tão fixantes, mas ainda assim vivos o suficiente para fazer todos desconfiarem de que algo muito estranho está acontecendo, ou a impressão de que não foi uma boa ideia se mudar para cá.
Precisamos acompanhar Gretchen (Hunter Schafer) nesse pesadelo de terror europeu: uma adolescente ainda sofrendo pela perda de sua mãe e ressentida com sua madrasta (Jessica Henwick), ela foi convencida a viver na Alemanha com o pai (Marton Csokas), sua segunda esposa e sua filha muda de sete anos (Mila Lieu). Gretchen preferiria estar de volta em casa, tocando música com sua banda influenciada em uma sonoridade pós-punk. Em vez disso, ela está presa na Baviera, com nada além de sua bicicleta, seu baixo e um canivete para fazer companhia — a menos que ela realmente precise disso para se defender de alguma ameaça melhor que atente contra sua vida.
O resort é administrado por Herr König (Dan Stevens), que não poderia estar mais feliz pela família que retornou ao seu pequeno pedaço de paraíso saxão. Sete anos atrás, o pai de Gretchen e sua nova esposa passaram a lua de mel no resort. A estadia deles resultou em sua meia-irmã — uma menina que nossa personagem principal semi-tolera e o proprietário do resort entrega uma atenção especial.
Uma tarde, enquanto aquele barulho estranho ecoa de dentro da floresta, a área abaixo da garganta da criança começa a tremer rapidamente e ela tem um ataque. Mais tarde naquela noite, enquanto Gretchen está indo para casa em sua bicicleta, ela percebe outra sombra no chão sombra no chão além da sua — alguém parece correr diretamente atrás dela, com as mãos agarrando seu ombro. Quando ela olha para trás, seu perseguidor parece ser uma senhora mais velha, vestindo um sobretudo e óculos de sol. Então a coisa realmente fica bizarra.
Cuckoo faz algumas escolhas típicas para um filme do gênero, principalmente quando um filme B desse tipo emprega histórias estranhas. König diversifica seu trabalho profissional com uma clínica local na mesma rua de seu resort. Também temos um ex-detetive de polícia vivido na tela por Jan Bluthardt, que está procurando por respostas sobre as misteriosas ocorrências ao redor do local e tem uma conexão pessoal com o que está acontecendo. E, é claro, além do animal ser conhecido por saltar de relógios de madeira e cantarolar a cada hora, a ave é um “parasita de ninhada” — como se ele colocasse ovos nos ninhos de outros pássaros e os deixasse criá-los e alimentá-los como se fossem seus.
O cineasta alemão parece estar indo para uma vibração inspiradora tardia, quando o subgênero entrou em seu período barroco e começou a colocar os elementos mais extravagantes. Os óculos escuros e o sobretudo da maníaca interna do filme também significam uma paixão pelas entradas clássicas do gênero slasher, e há um sentimento geral que explora o legado do submundo dos melhores filmes de terror das décadas de 1970 e 1980.
E quanto à Shaffer? A estrela de Euphoria não apenas declarou ser uma grande apaixonada pelo gênero, mas também queria deixar sua marca como “uma vadia má de suspense durona com uma faca na boca” (palavras dela). Sua atuação chama atenção, e convence por sua pessoalidade e o sofrimento contido nos olhos da atriz norte-americana. Para um longa em que as tomadas de decisão somam em grandes problemas, Schaffer é o acerto do filme. Ela não merece palmas! Merece o Tocantins inteiro!