Irracionalizando

Há quem diga que os animais convivem melhor entre si do que os seres humanos. Que, mesmo agindo apenas por instinto, ainda conseguem expressar comportamentos de respeito e lealdade, como se fossem racionais. Características que dizem estar se tornando extintas no homem, que cada vez mais busca vantagens sobre os outros. Que cada vez mais inveja os outros. Dizem. Mas creio que tal linha de pensamento não seja mera especulação, mas sim, uma triste constatação de tempos individualistas onde vale olhar apenas para si próprio.

O fato é que tais comportamentos mesquinhos sempre existiram. A questão é que aos poucos eles vêm aumentando. O problema é isso deixar de ser apenas um desvio de personalidade de determinados grupos de pessoas e passar a se tornar um comportamento natural dos seres humanos. Mas não podemos ser catastróficos. O respeito e a confiança ainda existem em muitas pessoas. Talvez até na maioria, por isso temos que estar atentos e saber separar o joio do trigo.

Pensando nisso tudo, nessa comparação entre homens e animais, nessa falta de segurança e posicionamento de muita gente, na falta de criatividade e autoconhecimento, começo a acreditar que muitos até querem se tornar irracionais. Pense bem. Se você for um ser irracional, poderá agir como um homem das cavernas. Poderá dizer que não sabia que determinada ação era errada. Poderá, literalmente, se fazer de louco, como dizemos quando alguém se faz de desentendido. Até imaginei, agora, uma bando de Neandertais caminhando pela cidade. Só que nós não somos eles. Somos seremos inteligentes, e, quando agimos como se não tivéssemos inteligência, acabamos nos colocando em um nível menor do que nossos ancestrais. Pois estamos exercendo a nossa capacidade intelectual para parecer que não temos tal capacidade. É como um gênio querer forçar para parecer um ignorante. Vai entender.

“Mas não podemos ser catastróficos. O respeito e a confiança ainda existem em muitas pessoas. Talvez até na maioria, por isso temos que estar atentos e saber separar o joio do trigo”

Diariamente são postados vídeos de animaizinhos nas redes sociais. Espécies distintas interagindo entre si. Realizando comportamentos de afetos. Mães cuidando de filhotes. São inúmeras peripécias animalescas. Já ouvi de alguns que isso tudo não passa de besteira. Que é perca de tempo de quem se dá ao trabalho de publicar e de quem assiste. Confesso que eu mesmo já pensei isso. Porém, depois de deixar o mau humor de lado, pude perceber que não se trata apenas de vídeos engraçadinhos. Mas sim, uma maneira subliminar de nos ensinar a reaprender a viver em comunidade.