Espelhos

*Por Eduardo Stelmack

Quando falam em mal do século, sempre me pergunto como se definir qual entre tantos males pode ser escolhido para ser o destaque na listinha de coisas ruins de um século. É díficil, mas talvez a mania que muitas pessoas têm de medirem suas felicidades se espelhando em outros indivíduos seja um grande merecedor de estar presente nesta lista.

O mais confuso é que, ao mesmo tempo que encontramos mais pessoas medindo suas alegrias e tristezas através dos outros, também encontramos um maior número de pessoas que sentem orgulho em dizer que são seguras de si. Que seguem suas próprias felicidades sem necessidade de olhar para os lados. Vemos então que a conta não fecha. Já que não passa um dia se quer sem ouvirmos alguém moldando seu comportamento para poder se encaixar em determinada situação. E assim vão construindo uma falsa felicidade, que na verdade não passa realmente de uma moldura apenas. Já o conteúdo, muitas vezes, não é autêntico. É morno, como o plágio de uma música. Nem diria morno, mas frio mesmo. Gelado.

Nesses tempos efêmeros – e também excêntricos -, é até aceitável que tomemos decisões baseadas nas opiniões alheias, que busquemos a felicidade no reflexo do outro, já que tudo passa e nem temos tempo de assimilar. Quando viu, já foi. Quando foi, ficamos. E quando ficamos já nem sabemos onde estamos. Sim, é uma loucura. Só não podemos exagerar neste, digamos, apoio social, e esquecermos que nossa felicidade depende de nós. Que não podemos viver se comparando com o colega, o vizinho, ou alguma celebridade. Que bom que somos todos diferentes, e são essas diferenças que são capazes de formar uma sinergia na qual todos se complementam e ajudam a roda girar, mesmo que de maneira meio lenta de vez em quando. Mas gira

Desde que consigamos manter essa roda em linha reta, já estaremos no lucro. Mas, para isso, é preciso que deixemos de usar os outros como espelhos.