Coluna Gestão em Dia: Falsos milagres da quarentena

*Por Sandra Ferreira, treinadora, mentora comportamental e consultora empresarial em gestão de pessoas

Salas em prédios tão vazios. Fomos mandados para casa. O “Santo Covid” nos presenteou com a presença mais assídua daqueles que dividimos o teto! Nos tirou do caos do trânsito; nos devolveu o tempo de escolha de look, maquiagem, cabelo… nos livrou da obrigação dos relacionamentos interpessoais com os colegas!

Ah, o milagre do home office!

Nos primeiros instantes, o positivismo é nosso discurso. E como disse Darwin, o Charles: somos fortes; nos adaptamos as mudanças! Está tudo sob controle, nos gabamos!

Então o tempo vai passando e com um milagre fajuto, nos descobrimos ingênuos iludidos. O pijama diário já não tem mais graça; damos um jeito de colocar na rotina, alguns minutos para a produção nada comparada aos dias em que éramos obrigados a sair. Nos pés, mantemos o chinelo,  alpargata ou a pantufa.

O estresse do trânsito passa a nem ser tão estressante assim. Afinal, era mais uma história para contar: “Guria, tu acredita que fiquei vinte minutos trancada na BR!”, “Cara, aí veio aquele idiota querendo me ultrapassar pela direita! Comprou a carteira, só pode!”, “Tchê, o ônibus estava lotado, vim em pé!”

Estarmos isolados fisicamente não precisa significar o isolamento total. Nem dos outros, nem de nós mesmos.”

E a relação com os colegas? Ah, essa é a que mais dói! Falta o bom-dia bem humorado da mocinha da cafeteria, deixamos de acompanhar a novela daquela colega que pegava todos na balada do final de semana e fazia questão de contar em volume alto de voz a amiga, que é para que chegasse ao conhecimento de todos, aquele colega irritante era outro que nos dava script para novelas que contávamos entusiasmados, com caras e bocas, aos mais próximos. Trocamos mensagens, fazemos ligações, chamadas de vídeos, nada é como antes! A comunicação passa a ter falhas. Se já tinha, fica insustentável!

A intolerância e impaciência passam a liderar nosso dia. Frustração, raiva, desapontamento, se fazem presentes sem qualquer convite formal.

Em meu instagram recebo, com frequência, pedidos de socorro de profissionais enfrentando toda essa novidade nos relacionamentos. Como gerir esses conflitos? Gerindo as emoções. A quem cabe essa tarefa? Aquele que detectou que o resultado profissional pode ser muito maior.

Estarmos isolados fisicamente, não precisa significar o isolamento total. Nem dos outros, nem de nós mesmos.