Chopes cremosos

Por Eduardo Stelmack

Quando penso em chope cremoso imagino um copo caldereta, que é aquele mais baixo que um copo tradicional e com a boca mais larga, preenchido com um chope gelado e a espuma do colarinho na espessura de dois dedos. Pode ser três dedos também. Mas essa espuma deve ter bolinhas de ar bem miúdas. Nada daquelas espumas que parecem sabão. Não. As cremosas são amigáveis, todas bem juntinhas, que fazem o colarinho parecer uma clara em neve.

Além desse visual deveras assediador, o chope cremoso, quando levado à boca, parece ter uma densidade menor do que o líquido aparenta ter. Lembra um pouco, digamos, quando comemos algodão doce. Sabe aquela sensação? Se desmancha suave e discretamente. E, vejam só, ambos são apreciados em momentos de descontração. Em momentos felizes. Porque momentos felizes devem ser leves e suaves.

Era isso que vinha em minha mente quando eu lia “chopes cremosos” nos textos do David Coimbra. Eu imaginava uma conversa com ele. Pensava que deveria ser uma experiência gratificante tomar uns copos junto com ele em um final de tarde trocando ideias sobre tudo sem querer nada. Trivialidades. Tranquilidades. Suavidades. Assim como teorizar descompromissadamente sobre um bom chope cremoso.

Esse brinde não rolou. Mas o cara foi tão foda que, mesmo em uma conversa imaginária, me inspirou.