Qual o próximo marco para Alba?

Em entrevista ao Vale Notícia, ex-prefeito de Gravataí contou sobre a rotina nos primeiros quase três meses após 8 anos no comando do Município, fez avaliação de sua gestão, defendeu protagonismo do MDB no Estado e revelou os planos para 2022

De 1º de janeiro de 2013 até 31 de dezembro de 2020, Gravataí passou por um verdadeiro marco histórico. Verdadeiro como o Marco que construiu essa história: Marco Aurélio Soares Alba.

Do gestor austero que adotou medidas amargas para pôr em ordem os cofres do Município no primeiro mandato ao realizador de grandes obras, como a duplicação das pontes do Parque dos Anjos, em seu segundo governo, Marco Alba trabalhou até seu último dia na Prefeitura como se fosse o primeiro. “Fui eleito para isso”, resume o hoje ex-prefeito, que encerrou sua gestão com mais de 85% de aprovação dos gravataienses, que também disseram sim para continuidade de seu trabalho elegendo seu parceiro político e amigo de décadas Luiz Zaffalon, o Zaffa, com mais de 22 mil votos de vantagem sobre o segundo colocado.

E lá se vão pouco mais de dois meses e meio… Marco, com uma vida agora um pouco menos agitada, dedica mais tempo à família e hábitos como a leitura. E é justamente da biblioteca de sua casa que ele conversa com o Vale Notícia para essa entrevista exclusiva.

Acostumado com salas cheias em reuniões, hoje divide a mesa com as pilhas de livros que coloca em dia. “É um pouco estranho, gosto de mesa cheia, de estar decidindo. Nunca tive medo de decidir! Quanto mais emblemático e complexo o tema, mais eu gosto”, reflete o político acostumado a emendar mandatos e cargos públicos importantes — foi vereador, secretário de Estado e deputado estadual, até chegar à Prefeitura. “Para quem está há 40 anos tomando decisões todos os dias, é mesmo um pouco estranho me sentir menos sobrecarregado”, conclui, com bom humor.

“Um partido que por quatro vezes governou o RS, que tem um legado na memória dos gaúchos, não pode ser coadjuvante no processo político do Estado”, diz Marco sobre o seu MDB.

Mas engana-se quem acha que Marco ficaria longe da política, mesmo que por um curto hiato. Ocupando a terceira presidência do MDB estadual, dedica-se a reavaliação política do partido. Se posicionou contrário a manutenção da majoração das alíquotas ICMS proposta pelo governador Eduardo Leite e a consequente ampliação do espaço do MDB no governo estadual. “Não é fazer oposição sistemática, mas também não adotar a situação adesista. É preciso reavaliar o propósito do MDB e também discutir a estratégia para 2022. Um partido que por quatro vezes governou o RS, que tem um legado na memória dos gaúchos, não pode ser coadjuvante no processo político do Estado”, decreta.

Deputado eleito para três mandatos (em 2002, 2006 e 2010), Marco é também o grande conselheiro da esposa Patrícia Alba, que assumiu cadeira na Assembleia Legislativa em janeiro. Patrícia se posiciona contrária a manutenção das alíquotas, criticando o governador, e já afirmou que a permanência do MDB no governo ficou insustentável. “Colaboro em temas que ela me pede alguma avaliação, mas a autonomia total é dela”, explica o esposo.

O ‘dá para fazer’ é o grande legado do prefeito Marco Alba

“Político tem que ter sensibilidade, compreender a suscetibilidade e tomar a decisão justa”, pondera Marco Alba. E foi assim que transformou a prefeitura, como ele mesmo diz, mostrando que “dá para fazer”. Ainda que, em seu primeiro mandato, tivesse que tomar medidas amargas para organizar as finanças do Município.
Nos começo do primeiro mandato, chegamos a ser chamado de ‘governo do buraco’. Mas não era só nas ruas… tinha buraco na dívida pública, buraco no orçamento, na receita. Tinha buraco na saúde, buraco na educação… E qual o buraco que se tapa primeiro? Sempre disse que é mais fácil consertar o amortecedor de um carro do que reparar a educação de uma criança ou salvar uma vida”, afirma.

Marco, com a esposa Patrícia Alba, deputada estadual

E assim, Marco foi tapando não só buracos, mas dando fim ao rombo no orçamento. Assumiu em 2013 uma Prefeitura com 56% de dívida consolidada. Entregou ao Zaffa, dia 31 de dezembro passado, com 24%.

“Fiz o que era preciso fazer para poder entregar à população o resultado esperado. Se não fossem os primeiros quatro anos de ajustes fiscais e aumento de receita, captando recursos federais, jamais teríamos o portfólio de obras que entregamos a partir de 2017”, explica. E não são poucas! Entre elas a Estrada Prefeito Acimar Silva e a duplicação das pontes de Morungava e do Parque dos Anjos.

“Mais do que dizer que dá para fazer, mostrei como fazer”.

Com essa fórmula, ‘daria pra fazer’ também o Estado sair do buraco?

Sim, avalia Marco, que faz críticas ao governador Eduardo Leite:

“Não fez nada até agora! Não diminuiu a dívida, ou se diminuiu não foi suficiente para o Estado poder reagir. Aumentou o que disse que não iria aumentar, sem conseguir colocar as dívidas em dia. Ainda não conseguiu governar”.

Sobre a entrega da duplicação da RS-118, Marco observa: “A obra da 118 foi feita com um financiamento do BNDS do governo Sartori. Começou lá na Yeda, no Rigotto… Tava pronto! Fora essa obra, Eduardo Leite não conseguiu entregar nada”.

Marco ainda crítica o aumento de impostos. E dá um exemplo de seu governo, em Gravataí: “Dá para aumentar a receita sem aumentar impostos. Também se faz isso promovendo a justiça fiscal. Em Gravataí, fizemos isso com o IPTU, por exemplo. Cobramos do devedor, do sonegador, para não recorrer aos que pagam em dia. Ao invés de aumentar o imposto, nós identificamos obras e edificações que não estavam no cadastro, executadas há 10, 20 anos de modo clandestino.”

Um modo de gestão que não seria novidade para o Estado. “Foi assim com a Yeda. Eu estava lá. E aprendi”.

Marco em defesa da vida

Não à toa, o nome de Marco é lembrado quando se projeta a disputa eleitoral para o governo do Estado em 2022. É grato ao reconhecimento, mas avisa que deve buscar uma vaga na Câmara Federal.

“2022 está se desenhando e eu não fujo da raia!”

“Fico muito honrado com a lembrança de meu nome para o governo estadual, que acredito ser reflexo dos resultados como gestor da 4ª economia do Estado. Enfrentamos, nesses oito anos na Prefeitura, uma crise econômica, crise política nacional e a pandemia. E mesmo em meio a tudo isso, a sociedade gaúcha viu as entregas que realizamos, sempre com base na responsabilidade fiscal”, pontua. “2022 está se desenhando e eu não fujo da raia! Nosso partido é grande e tem muita gente ‘cacifada’ para governar o Estado, já fomos chamados quatro vezes para isso. Mas o meu projeto é buscar uma vaga como deputado federal”.

E entre as pilhas de livros de Direito em sua mesa, o advogado e sempre gestor Marco Alba reafirma sua decisão: “Toda a legislação que organiza nossa sociedade é muito vulnerável. Ou tem frestas, ou privilegia a classe dominante. A grande maioria das leis é inadequada ou incompatível com o momento que vivemos hoje. Só um exemplo: é justificável uma criança ser violentada ou morta e o criminoso responder em liberdade? Não, não há argumento para isso”, afirma. “O congresso nacional sequer discute uma grande reforma penal e a impunidade no Brasil continua a mesma. Tenho estudado muito, quero ser deputado federal para defender o nosso bem mais precioso, para lutar pela vida”.