GRAVATAÍ SEDIA O Iº ENCONTRO DO COMITÊ DAS MULHERES DO 22º NÚCLEO CPERS – SINDICATO

“SAÚDE MENTAL DA MULHER, ONDE ELA ESTIVER”

No dia 1º de fevereiro de 2024 ocorreu a primeira roda de conversa do Comitê das Mulheres do 22º Núcleo do CPERS-Sindicato (Gravataí) sobre o tema da saúde mental da mulher. O evento realizado na sede do núcleo foi mediado pela Profa. Letícia Coelho Gomes, Diretora Geral do 22º Núcleo, filósofa, arte-educadora e diretora da Escola Estadual Ponche Verde. Participaram da primeira edição vinte mulheres, todas educadoras e ativistas das causas da educação pública estadual e municipal. Esteve presente também a representante da Direção Central do CPERS, Professora Sandra Regio. A programação do evento contou com as palestrantes Profa. Dra. Hilda Jaqueline Fraga, Historiadora e Doutora em Educação pela UFRGS e atualmente docente pesquisadora da Universidade Federal do Pampa/ Campus Jaguarão; A Presidenta do PT Gravataí Adelaide Klein também militante das Comunidades Eclesiais de Base, do Movimento Fé e Política, Coordenadora Pastoral Social da Paróquia Sagrada Família e do Conselho Municipal de Direitos da Mulher e a psicóloga, mestra em Comunicação Social, sócia fundadora da Psi psicologia e psicoterapia LTDA Marzie Rita Alves Damin.

Durante o encontro foram debatidas questões atualmente consideradas pautas urgentes no campo da saúde mental na educação e em torno das quais o grupo dialogou a partir das reflexões socializadas pelas palestrantes. O debate do tema trouxe dados relevantes sobre a violação dos direitos humanos, a falta de interesse histórico dos poderes públicos na criação e aplicação das leis que protejam, cuidem e valorizem as mulheres nos diferentes campos de atuação entre elas, o mundo do trabalho. Adelaide apontou o quanto, nós, mulheres somos multifacetadas, e somos muitas vezes solos, parimos, cuidamos da infância e das pessoas mais idosas, trabalhamos muito mais do que os homens. Segundo ela “por isso temos que exigir sim, a divisão das tarefas nos espaços que transitamos; lutar por justiça social e pela equidade salarial, e cada vez mais ocuparmos os espaços de poder de representação política”.

Outra pauta importante foi a explanação da Profa.Hilda Jaqueline de Fraga sobre um dos dramas mais graves da educação na atualidade: o assédio moral e pedagógico traduzido em múltiplas violências sofridas tanto por mulheres quanto pelos homens, trabalhadoras e trabalhadores em educação em nosso estado e país. A pesquisadora destaca que essa verdadeira tragédia recorrente em algumas escolas e modelos de gestões públicas é um dos resultados nefastos e perversos da sociedade capitalista e da prática ostensiva no campo da educação imposta por governos neoliberais. Para ela, trata-se de uma clara necropolítica de morte e desumanização das relações pedagógicas que vem infelizmente sendo naturalizada pelas instâncias públicas, equipes diretivas, entre outros. Nunca nos acostumaremos com isso, reforçou a professora Hilda a exemplo do que estamos assistindo na atual gestão estadual e no modelo neoliberal de educação preconizada desastrosamente pela atual Secretaria de Educação do Estado do RS.

A professora trouxe ainda dados alarmantes que precisam ser publicitados na medida que apontam que o assédio moral no trabalho, de acordo com a OMS- Organização Mundial da Saúde, é um dos maiores responsáveis pelo adoecimento mental de trabalhares/trabalhadoras, os quais destacam-se os/as educadores e educadoras. No quadro mundial os países da América do Sul, incluindo o Brasil, este fenômeno é ainda mais recorrente devido a experiência violenta do processo de colonização eurocêntrico que violou e dizimou corpos, principalmente os femininos, devido o violento modelo patriarcal de alta intensidade caracterizado pela opressão e submissão de coletivos estigmatizados, somado ao período da Ditadura Civil Militar. De acordo com ela “infelizmente somos um país forjado na violação de direitos e, portanto, ainda vivemos numa sociedade autoritária. O assédio é um dos resquícios deste processo histórico violento e ditatorial. No entanto, destaca que o assédio moral e pedagógico atinge homens e mulheres na contemporaneidade. Além disso, aponta para um sistema que oprime os corpos e consciências, torturando e matando a essência  das(os) docentes distribuídos pelo mundo. Conforme comenta Hilda, nesse sistema marcado por uma sociedade do cansaço, pelo esgotamento,  todos sofrem uma espécie de paralisia pelo imediatismo e exigências de conservação de uma suposta juventude através da estética corporal e irreal posta nas redes sociais e pela negação do envelhecimento. Nesta sociedade do cansaço e  de cobrança estética o mecanismo do assédio moral e pedagógico se soma intensificando-se nos últimos anos. Prova disso, são o acirramento no período pandêmico e pós-pandêmico de novos mecanismos de burocratização, de vigilância e controle dos educadores/educadoras que incidem na desumanização dos procedimentos de gestão escolar e das relações laborais, a ponto de haver um negacionismo da amorosidade nas relações cotidianas das escolas aumentando assim, os níveis e percentuais de adoecimento.  O assédio moral e pedagógico, conforme os dados, cresce desde antes da pandemia no chão principalmente das escolas públicas estaduais e municipais. Prova disso, foi a instituição pelo Governo Federal – Ministério da Saúde, do Janeiro Branco, mês marcado pelo combate a este ambiente de violência nos espaços laborais. Dentre as doenças mentais psicossociais no trabalho estão burnout, abuso de drogas e as tentativas de suicídio que passam a fazer parte de rol de doenças relacionadas ao trabalho. Para finalizar, Hilda ressalta que é preciso que a categoria e a sua representação sindical, o CEPERS denunciem o assédio moral e pedagógico nas escolas como algo que existe é fato, e o mais importante, que ele é crime e mata ameaçando a qualidade de vida e a liberdade de cátedra dos educadores/educadoras porque vidas docentes importam! Dando continuidade ao debate, a psicóloga Marzie destacou a necessidade de NÓS, MULHERES, não perdermos nossa identidade coletiva, diante a fragilização nos sentimos vulneráveis, mas juntas devemos desenvolver espaços seguros para a consciência de nós mesmas, e retermos todas culpas “quais bagagens vamos levar? O que vamos colocar nas malas?” questionou o grupo. A educação e os espaços políticos precisam ser os lócus de políticas públicas efetivas em educação, promovedoras do cuidado com as meninas e as mulheres, estimuladoras de voz e vez através da sororidade de gênero, isto é, da nossa autoconsciência, inclusive num dos espaços sociais mais importante da sociedade que é escola!  O Comitê em breve se reunirá novamente. Como desdobramentos do encontro foi retirado a elaboração de indicadores com as demandas resultantes do debate para aprofundamento junto a representação sindical CEPERS e outros fóruns de debate público acerca do tema e no qual o 22º Núcleo através da sua atuação e do seu Comitê de Mulheres seguirá atento e assertivo. Vidas Docentes importam!!! Avancemos!