As lições de Tinga na palestra do Senac Gravataí

Confira, os destaques da fala sensível, transparente e carismática daquele que transformou a vida de milhares de pessoas dentro e fora os gramados

Foto: Rafael Trrajano/Vale Notícia

Resiliência, coragem, humildade e empatia são as quatros palavras que definem Paulo César Tinga, 43 anos, ex-jogador de futebol, empreendedor e convidado especial para a webpalestra ‘Do Campo para Vida’, ministrada na noite da última  quarta-feira (15).

Promovida pelo Senac Gravataí na página oficial da escola no Facebook, o encontro híbrido contou com a presença de autoridades e imprensa. Acompanhados pelo diretor da escola, Gidião Araújo Monteiro, do prefeito de Gravataí, Luiz Zaffalon; do vice-prefeito, Dr. Levi Lorenzo Melo; da secretária Municipal de Habitação, Luciane Machado; do presidente da Câmara de Vereadores, Alan Vieira, da presidenta da Acigra, Ana Cristina Pastro, do presidente do Sindilojas, José Nivaldo, entre outros convidados, também tiveram a oportunidade de conhecer as novas instalações do Senac Gravataí — como você vê em fotos e vídeo do Vale Notícia clicando AQUI,

A estrutura, com mais de 2 mil metros quadrados, irá aumentar a capacidade de atendimentos, podendo circular mais de dois mil alunos por dia. Além disso, serão ampliadas as ofertas de cursos nas áreas de Saúde, Informática, Gestão e Segurança. Entre os ambientes, modernos e alinhados com as demandas do mercado, estão os laboratórios de Saúde, Gestão e Informática, além de salas de idiomas e multiuso. Integração, sustentabilidade e acessibilidade fazem parte do conceito.

Confira, os destaques da fala sensível, transparente e carismática daquele que transformou a vida de milhares de pessoas dentro e fora os gramados.

Inspiração  
Para começar, Tinga relembrou sua infância ao lado da sua maior inspiração e mentora, sua mãe, dona Nadir. Moradores do bairro Restinga, na zona sul de Porto Alegre, o ex-jogador soube desde cedo o valor do trabalho. “A minha mãe saia de casa de madrugada apenas com uma sacola e voltava no final do dia com duas sacolas cheias de comida e bebida, do que não tínhamos em casa, então a partir dali eu soube que trabalhar era bom e que poderia mudar a minha vida”, relatou.

Tomada de decisão e coragem 
Tinga também abordou a importância de saber tomar decisões e o quanto elas são fundamentais para seguir em frente. O craque da dupla Gre-Nal recordou os três testes realizados no clube colorado, onde não passou, mas que não desistiu. Foi persistente e resiliente, porque era de coragem que ele precisava. “Ter coragem não significa não ter medo. Muitas vezes a gente precisa ir com medo mesmo”, ressaltou.

E novamente, ele tomou a decisão de participar de uma peneira, desta vez no time rival, o Grêmio. “Eu estava no ponto de ônibus para ir fazer mais um teste, encontrei os meus amigos parados na esquina e um deles perguntou onde eu iria, e eu falei que estava indo fazer um teste e ele: “mas de novo?”. Eu poderia ter ficado ali, na esquina com eles, fazendo outras coisas, mas eu decidi que eu deveria pegar aquele ônibus e ir atrás do que eu queria”, destacou o ex-jogador. Mas Tinga fez um alerta: “Toda vez que a gente toma uma decisão, a gente recebe um brinde, que é a consequência”.

Curiosidade   
Mesmo aposentado dos gramados, Tinga não parou por aí. Depois de encerrar uma carreira consolidada no futebol e se tornar empresário, o craque retornou à Capital gaúcha e resolveu estudar novamente, fazendo o supletivo a partir da quinta série. “Quando eu chegava na sala de aula, as pessoas ficavam na dúvida se era eu mesmo e eu tinha vergonha de estar ali, de não saber as coisas. Ao mesmo tempo, eu ficava num impasse: “poxa, eu não sei isso, mas se eu perguntar vão saber que eu não sei”, mas também não queria ficar na arrogância e status de ídolo”, contou.

Até que um dia ele resolveu levantar a mão para perguntar e todo mundo na turma se mexeu para ajudá-lo e aí ele percebeu que ele poderia aprender muito mais sendo curioso, fazendo as perguntas, do que ficar parado, sem saber, simplesmente por vergonha. “Por isso, eu gosto da frase “Curiosidade não tem cura”, porque não são as respostas que movem o mundo, mas as perguntas. E eu sempre digo que a minha formação é em curiosidade, sou Phd em curiosidade, enfatizou Tinga.

De jogador de futebol a empreendedor   
Depois de duas décadas dedicadas ao futebol, hoje em dia Tinga é um empreendedor, que transita por diversas áreas e negócios, que vão desde turismo, passando por gestão de pessoas, até marcas de roupas. Para isso, Tinga faz uma analogia com o tomate. “Todo mundo entende que o tomate é uma fruta, certo? Mas quem aqui usa o tomate na salada de fruta? Ninguém, né? Isso porque não basta ter conhecimento, é preciso saber aplicá-lo com inteligência”, argumentou.

O resultado disso é reflexo da vez que Tinga resolveu selecionar 10 nomes em sua agenda e foi passar o dia nas empresas, conhecendo os produtos e os processos de trabalho. Mas, principalmente, porque ele tinha muita curiosidade sobre inovação, como criar algo novo. E logo obteve a resposta. “Uma vez um cara me disse: Tinga, você precisa saber do que as pessoas precisam, do que elas reclamam. A partir disso, você terá algo para criar, algo para resolver”, relatou.  E foi assim que nasceu a agência de turismo de Tinga. “Quando eu estava nos clubes, faziam tudo pra mim. Eu não precisava me preocupar, mas quando eu tinha que organizar as minhas férias, era uma dificuldade. Então, a agência de turismo foi criada para atender às minhas necessidades. Faço as coisas baseadas no que as pessoas precisam. Ou seja, talvez a oportunidade esteja na sua curiosidade ou no que as pessoas estão reclamando”, sinaliza.

Crise de confiança 
Ao falar sobre crise, Tinga é taxativo. “A verdadeira crise que temos é de confiança, e não de dinheiro, porque o dinheiro está em algum lugar. Ninguém rasga dinheiro. Ele só troca de mãos. Os grandes negócios do mundo são feitos na confiança. Eu trabalho com um desses, que é o setor do turismo. Recentemente, um cliente foi lá comprar passagens para o casamento dele em Cancún, mais de 20 convidados, mas quem garante que eu vou entregar a passagem pra ele? O que garante é a confiança na empresa. A confiança é uma coisa que a gente precisa defender todos os dias”, explicou Tinga, que ainda reforçou dizendo que para fazer a diferença no mercado brasileiro é preciso ser confiável.

Gestão de pessoas  
“Cuidado. Quanto mais alto a gente estiver, menor a gente fica”, foi uma das frases ditas pelo ex-jogador enquanto passava a imagem de um avião em terra firme, grande, e um no céu, distante e pequeno. “Sempre quando participo de eventos e visito empresas, o maior desafio das organizações é a gestão de pessoas. Mas por que isso? Muitas vezes a gente ouve o cara dizendo que o dono da empresa não vai no chão de fábrica, porque perde o respeito dos seus funcionários”, lembrou.

E novamente Tinga faz uma analogia, desta vez com os aviões. “É no chão que as pessoas nos veem, é quando estamos perto, porque as elas enxergam. Se você quer fazer a diferença na vida das pessoas é preciso estar perto delas. Fique perto. Todo mundo me pergunta a diferença do jogador do passado para o jogador de hoje. E é justamente isso. Antigamente, nós compartilhávamos mais a vida um do outro presencialmente, não vivíamos tanto no celular. Então cada um sabia da dificuldade do outro, da realidade e dos sacrifícios que outro fazia”, recordou.

Ao relembrar, Tinga reforça a importância de um time. “Quando um jogador corre por mim, ele está correndo pelo meu sonho, e eu corro por ele, pelo sonho dele também. Aí a gente se ajuda, aí nós temos um time. Para a gente ser um time é preciso entender as pessoas e para entendê-las é preciso conversar com elas”.

Tempo 
Em seus trabalhos sociais, o ex-jogador gosta de visitar e ajudar pessoas em situações vulneráveis, e os hospitais são um dos locais que ele costuma ir. “Quando eu vou, eu pergunto: se tu pudesse escolher, o que tu gostaria de ter agora? Ninguém fala em dinheiro, carro, avião, etc. Todo mundo fala em tempo. Que gostaria de ter tempo para ligar para alguém, para estar com alguém. Ou seja, o tempo é valioso demais”, refletiu.  Para Tinga, a única coisa que temos em igualdade é as 24 horas do dia. Segundo ele, cada um usa, empresta e vende como quer. “Ninguém tem menos horas, mas que a gente saiba o verdadeiro valor e que não perca tempo”, reforçou.

Para finalizar, o empreendedor ainda revelou o desafio que é falar em público. “Hoje para eu entrar aqui, eu tenho o mesmo frio na barriga assim como era para entrar em campo, seja no Beira-Rio ou no Olímpico. E eu tenho certeza que se pelo menos uma pessoa me ouviu aqui, a vida dela vai mudar a partir do que ela acompanhou hoje”, ressaltou Tinga, que ainda complementou dizendo que “eu não conheço e nem desconheço a sorte, nem acredito e desacredito, eu só acho que ela é muito inteligente, porque ela escolhe quem trabalha, quem vai pra cima, quem corre atrás”.

ASSISTA AO VÍDEO: