O filme mais polêmico da carreira dos Beatles finalmente ganhou uma segunda chance. The Beatles: Let It Be é aquele filme esquecido de Michael Lindsay-Hogg que ficou conhecido como a maldição que enterrou o “sonho” que John Lennon havia afirmado alguns anos após o rompimento dos Fab Four. Centrado na ideia documental da banda gravando e criando o álbum de mesmo nome que seria lançado em 1970, Let It Be se tornou mais um documentário de uma banda que se desfazia a cada hora que passava no estúdio.
Na época, os fãs do grupo viram isso como um “filme de separação” do Quarteto de Liverpool, mostrando um grupo à beira do colapso. John, Paul, George e Ringo pareciam estremecer cada vez que isso era mencionado. Let It Be é o resultado de 28 horas de filmagens esquecidas de Lindsay-Hogg que Peter Jackson (das trilogias O Senhor dos Anéis, O Hobbit) recuperou, remasterizando todo o conteúdo extraído. O resultado disso resultou no documentário de seis horas The Beatles: Get Back, lançado em 2021, que nos levava junto com os Beatles para o estúdio em janeiro de 1969 e terminava com o famoso show na cobertura da Apple Corps — a última performance ao vivo da banda.
Get Back deu aos fãs uma perspectiva mais completa sobre este período tumultuado na vida dos Beatles, mostrando sua camaradagem e humor. Ele dissipou algumas das más vibrações que todos associavam à Let It Be. Vale a pena assistir Let It Be, mesmo se você for um beatlemaníaco das antigas. Na verdade, é uma experiência totalmente diferente agora. O filme original parecia escuro porque foi filmado para televisão em filme de 16mm e depois ampliado para 35mm para as grandes telas de cinema, com um som incompleto. No entanto, Jackson restaurou digitalmente a filmagem, como fez em Get Back, usando a mesma tecnologia de mixagem para música.
Ao assistir Let It Be com uma nova perspectiva, conhecendo mais sobre a história, a maior surpresa é o quanto ela é realmente divertida. Não presenciamos os Beatles se separando. E, de fato, os Fab Four não estavam se separando — eles partiram direto para as sessões de Abbey Road. Com toda a reputação amarga do filme, são basicamente 80 minutos de banda tocando, como na cena prazerosa em que todos tocam o clássico “You Really Got a Hold on Me”, de Smokey Robinson and the Miracles.
A coisa mais forte sobre The Beatles: Let It Be é quando observamos John, Paul, George e Ringo criando. Há o conflito, o choque de mentes criativas sem um norte, e até mesmo quando eles acertam — a versão para o que viria ser a definitiva do hit que dá nome ao filme arrepia e a interpretação mágica de “The Long and Winding Road” ainda ressoa lembranças de uma época de profundas mudanças na personalidade de cada membro da banda. Enquanto vão explorando a guitarra para descobrir o tom certo e a maneira correta de cantar, não demora muito para a “faísca” acontecer. É nesse momento que percebemos que tudo valeu a pena.