Andrew Garfield e Florence Pugh estão mais apaixonados do que nunca em ‘Todo Tempo que Temos’

Não bastou nos dar o filme Brooklyn (2015). John Crowley nos entrega um romance tão sensível, belo e contagiantemente amoroso. E quem ganha somos nós!

Andrew Garfield e Florence Pugh em 'Todo Tempo que Temos'. © Peter Mountain/A24

Uma coincidência de encontro acontece em Todo Tempo que Temos, do cineasta John Crowley (Brooklyn). Começando pelas cenas ─ que alternam entre flashbacks simplistas de acontecimentos do passado para o presente, e depois do presente para o passado ─ que desenvolvem uma história de amor que há tempos eu não assistia. Imagine que Tobias (interpretado pelo grande ator e também considerado o mais fofo pelas jovens da geração Z, Andrew Garfield) está se separando. Ele está com os papéis do divórcio para assinar. Ele olha para os papéis com seriedade e decide assinar. Mas a tinta da caneta acabou. Ele, de roupão, vai comprar canetas. Na volta, ele é atropelado. Algumas horas depois, ele acorda no hospital, com a presença de uma desconhecida junto a ele. “Meu nome é Almut”. “Meu nome é Tobias”. Lá vamos nós.

Quando Tobias conhece Almut (uma Florence Pugh de franja, um olhar forte e uma conexão e imprevisibilidade surpreendentes), seu mundo mudou totalmente. Como uma mulher que chama a atenção de qualquer homem e em qualquer lugar do mundo, Almut é uma chef de gastronomia. Seu mundo passa pela cozinha em fazer de seu paladar uma obra-prima. Tão exigente, ela tem alguns talentos, que o filme insiste em deixar oculto até metade da duração, mas a começar pela sua personalidade independente e forte para uma mulher no século 21, ela caiu de paraquedas na vida de Tobias.

Por mais que sejam duas pessoas diferentes, com gostos diferentes e visões de mundos diferentes, Crowley usa a câmera com cores mais neutras, tal como sua direção artística, o cineasta irlandês que nos deu Brooklyn (2015) utiliza cores neutras e relativas, em ambientes confortáveis e ao mesmo tempo íntimos e calorosos para evocar nostalgia e enfatizar a profundidade das emoções dos dois seres que se amam, e também os ambientes de aglomeração de pessoas, em festas, jantares e mais intimamente no jardim da casa do casal. Crowley usa a iluminação e o design de produção para criar uma experiência visualmente imersiva.

E a experiência imersiva realmente acontece, através do dia a dia da vida a dois: Tobias é um homem romântico e apaixonado, representando milhares de homens idealizadores de um relacionamento a dois para constituir família. É seu sonho ser pai. Almut representa milhares de mulheres que não querem ser mães, mas procuram obter uma vida profissional de destaque. Um é calmo, a outra é extrovertida. Ele representa uma visão tradicional de família, ela representa uma visão da mulher moderna. Embora fisicamente belos, inteligentes e realizados profissionalmente, há uma coisa em comum que não mencionei aqui: se amam como uma chama que não se apaga.

E essa chama de amor é colocado à prova, mas nas inúmeras vezes que o filme roda você sente a convicção de que ambos se respeitam, cada um à sua forma, e isso entrelaça a história apresentada através da tela para o espectador. Não há como deixar de sentir a intensidade e a preocupação de um pelo outro, principalmente quando um câncer no ovário chega para ameaçar a fertilidade e a chance de Almut e Tobias terem um filho. E o drama de Almut começa aqui, quando ela sabe que não poderá resistir a ponto de dar um filho a seu marido. Também há no inconsciente dela a forma como ela se prepara para os acontecimentos futuros. Mas ainda há aquele topo de independência que ela sempre procura, a aventura, os desafios de seu trabalho (Olímpiadas de Gastronomia), algo que ela ainda não sabe lidar com a situação de que, como o tempo passa e com ele também muda suas prioridades, ela vai descobrindo que o tempo passa para todo mundo. É aqui que o efeito-lágrimas é ativado.

Embora Almut não tenha o mesmo desejo de ser mãe ─ e acredite, será! ─, ao longo do filme, esse conflito de visões de mundo mudam paulatinamente. Brigas acontecem, pedidos de desculpas também, e de uma cena a outra o amor acontece das formas mais calorosas possíveis. Mas o que é o amor para Tobias e Almut se não conhecer um ao outro, concordar com muitas coisas, discordar de outras, amar-se perdidamente e se entregar de corpo e alma ─ para o bem do seu relacionamento?

Mesmo assim, Todo Tempo que Temos é um filme interessante e tão leve em sua história e abordagem que vai surpreender você. É um filme romanticamente belo, com dois grandes nomes da nossa geração, entregando-se um ao outro, com ataques de fúria, romantismo desenfreado e um bom, velho e claro sentido que todos os relacionamentos precisam ─ de que o amor supera fronteiras.

Todo Tempo que Temos está disponível no Arcoplex Cinemas do Shopping do Vale.