Luta contra a intolerância religiosa é debatida em encontro com Luciana Genro em Gravataí

O Templo de Quimbanda Mensageiro da Luz, liderado por Mestre Lukas de Bará da Rua, tornou-se um importante pólo de discussão na noite de quarta-feira (04.06), ao sediar um encontro dedicado a combater a intolerância religiosa. O evento, que teve início às 20h, reuniu lideranças religiosas, além da deputada estadual Luciana Genro (PSOL) e membros da comunidade para compartilhar experiências, denunciar o preconceito e clamar por união e organização política.

A noite começou com uma homenagem ao Pai Paulinho de Xoroquê, reconhecido por sua luta contra a intolerância religiosa e por seus projetos sociais, que faleceu na véspera do encontro, vítima de um incêndio. Compuseram a mesa de debates os religiosos Mestre Lukas, Tata Hélio de Astaroth, Mameto Amália do Capa Preta, representando a Afroconesul, Pai Cebola de Oxalá e a deputada Luciana Genro.

Relatos e resistência

A deputada Luciana Genro, convidada a compartilhar sua experiência na linha de frente do combate à discriminação, enfatizou a necessidade de organização política para os praticantes das religiões de matriz africana.

“Tenho sido uma defensora, em primeiro lugar, da liberdade religiosa, e da livre expressão da religiosidade de cada um”, declarou.

Ela ressaltou ainda que essas religiões são as que mais sofrem perseguição, muitas vezes alimentada pelo desconhecimento da população. A deputada também explicou como a discriminação se liga ao racismo estrutural e conclamou os presentes a se engajarem politicamente.

“Nós precisamos dar ao povo de matriz africana uma representação política”, afirmou.

Tata Hélio de Astaroth trouxe uma perspectiva sobre a essência da fé, argumentando que não há obrigação de explicar a religião, pois é uma questão subjetiva. “A gente não tem que explicar o nosso sagrado. O sagrado é relativo a cada um”, defendeu, enfatizando que a demanda deve ser por respeito.

Mameto Amália do Capa Preta trouxe um relato pessoal sobre o bullying que sofreu na infância e que sua família ainda passa, por serem da quimbanda. “Os vizinhos nunca se aproximaram dos meus filhos. As crianças da escola falam coisas e meus filhos sempre sofreram que nem eu com isso”, explicou.

Ela criticou também a vergonha que alguns religiosos demonstram de sua própria ancestralidade e a burocracia desproporcional imposta aos terreiros em comparação com igrejas de outras denominações.

O líder espiritual Pai Cebola de Oxalá fez um discurso pela união do povo de religião e denunciou falas preconceituosas de políticos e personalidades, especialmente em momentos de crise, como na covid-19 e nas recentes enchentes no estado. Ele citou exemplos de narrativas que culpam as religiões de matriz africana por tragédias, como a de uma influenciadora que atribuiu as inundações à “ira de Deus” pelo número de terreiros no Rio Grande do Sul.

Pai Cebola também criticou a hipocrisia de um estado laico que ostenta símbolos cristãos em repartições públicas e aberturas de sessões legislativas, defendendo a necessidade de representação política para o povo de axé. “Se existe a bancada da Bíblia, nós temos que formar a bancada do Axé”, convidou.

Durante a fala de Pai Cebola, Mestre Lukas ressaltou a importância da participação do povo de religião de matriz africana na política. “É por isso que nós temos que nos organizar e termos políticos que realmente nos representem”, reforçou.

Educação e preconceito em pauta

Além dos discursos da mesa, o debate se estendeu a outras formas de intolerância. Os participantes discutiram como o ensino religioso nas escolas, quando existente, frequentemente se limita à perspectiva cristã, ignorando a diversidade de crenças.

Casos de preconceito vividos pelos presentes também foram compartilhados, ilustrando a urgência do tema. A deputada Luciana Genro abordou a questão, sugerindo que, embora não se possa obrigar as escolas a adotarem um currículo específico por lei, é possível oferecer às escolas esse contato através de palestras e debates.

O encontro no Templo de Quimbanda Mensageiro da Luz reuniu cerca de 50 pessoas e tinha por objetivo reforçar a mensagem de que a luta contra a intolerância religiosa exige não apenas resistência individual, mas também organização comunitária e engajamento político para garantir o respeito e a liberdade de crença.