Lembra do curso de padaria realizado dentro da Pecan para quilombolas e imigrantes? Agora eles estão formados e prontos para o mercado de trabalho!

Foi a primeira vez na história do Rio Grande do Sul que pessoas da comunidade entraram em uma penitenciária para receber uma capacitação profissional com detentos do regime fechado — o Vale Notícia contou essa história; relembre!

Foto: Guilherme Pereira/PMC

A Prefeitura de Canoas realizou, nesta quarta-feira (23), no Paço Municipal, a cerimônia de formatura de dez alunos do curso de português, panificação e confeitaria oferecido pela Secretaria Adjunta de Igualdade Racial e Imigrantes por meio de uma parceria inédita com o Complexo Penitenciário de Canoas.

O Vale Notícia conheceu o projeto, dentro da penitenciária, e contou em detalhes na reportagem Detentos da Penitenciária de Canoas ensinam quilombolas e venezuelanos a produzir pães, doces e salgados (clique para ler).

Nos últimos dois meses, a turma formada por quilombolas e imigrantes venezuelanas frequentaram aulas dentro do estabelecimento prisional, que conta com uma padaria completa em suas dependências, tendo dois apenados como instrutores.

Foi a primeira vez na história do Rio Grande do Sul que pessoas da comunidade entraram em uma penitenciária para receber uma capacitação profissional com detentos do regime fechado. A qualificação possibilitará que os formandos possam deixar a condição de vulnerabilidade social e buscar uma colocação no mercado de trabalho ou mesmo o empreendedorismo.

“Esse dia é uma marca para a cidade, que tem servido de exemplo para outros municípios. Marca de que é possível sonhar, acreditar e realizar”, destacou a secretária Ednea Paim

Conforme pontuou a secretária, a iniciativa surgiu para atender uma antiga demanda dos moradores do Quilombo Chácara das Rosas, localizado em uma área de cerca de 3.600 metros quadrados no bairro Marechal Rondon, próximo ao Canoas ParkShoppinhg.

No local, certificado desde 2006 pela Fundação Palmares como Comunidade Remanescente de Quilombo, residem cerca de 20 famílias que há pelo menos três anos contam com uma padaria totalmente equipada em seu espaço, fruto de doação da Emater, porém sem funcionamento por falta de capacitação profissional.

As aulas começaram no início de outubro, incluindo teóricas e práticas, além de lições de língua portuguesa com uma professora voluntária da rede municipal de ensino. Os apenados formaram-se padeiros pelo Senac dentro da Pecan no ano passado.

A emoção dominou a solenidade, que contou com a presença de autoridades da Susepe e dirigentes da Pecan, secretários municipais, vereadores, membros da administração, familiares e convidados da comunidade negra, já que faz parte da programação do Mês da Consciência Negra de Canoas.

Pronunciando-se em nome da turma, a moradora do quilombo Fabíola Letícia Lima agradeceu pela oportunidade. “Vai  acrescentar muito no nosso dia a dia, teremos a chance de trabalhar para nós mesmos e finalmente colocar a padaria do quilombo em funcionamento”. A venezuelana Keidy Yurianni também comemorou. “Foi maravilhoso, já sabia bastante sobre bolos, mas nada de padaria”.

Boa parte dos insumos utilizados no curso foram doados pelo Banco de Alimentos do município. Na tarde desta quarta-feira, se transformam nos diversos produtos típicos encontrados nas padarias: pães de todos os tamanhos, bolos, folhados, salgadinhos de festa, quiches, tortas e muito mais, servidos aos convidados ao final da cerimônia.

Pioneirismo de Canoas

Pioneira entre os 497 municípios gaúchos, a Prefeitura de Canoas foi a primeira do Rio Grande do Sul a celebrar convênio com Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), em março deste ano, para a utilização do trabalho de apenados para a confecção de camisetas escolares e serviços de lavanderia. O próximo serviço contratualizado deverá ser a confecção de fraldas e absoventes pelos detentos para distribuição aos hospitais e escolas.

Dos 2.200 detentos da Pecan, 1.200 exercem atividade laboral, sendo 214 empregados assalariados nas 14 empresas presentes na casa prisional. Os outros atuam em serviços de manutenção e limpeza. O resultado desses esforços pode ser visto através do índice de reincidência criminal dos egressos da penitenciária, que é de apenas 13%.