The Beach Boys é uma homenagem ao legado da banda norte-americana que abriu as portas para uma grande geração de artistas que deixariam suas marcas no rock do futuro. Por muitas gerações, as pessoas acusaram a banda por trás de sucessos como “God Only Knows” e “California Girls” de ser muito descartável, um doce pop comparado ao trabalho mais denso de grupos como os Beatles ou dos muitos artistas que os seguiram na contramão da onda cultural do Verão do Amor da década de 70. Demorou para que seu legado fosse cimentado como uma banda que sempre realizou mais do que parecia, fosse por suas harmonias vocais que soavam quase impossíveis ou pela maneira como destilaram a cultura californiana através de suas melodias.
Sua música é o que mais empolga, e obviamente a nostalgia pode tomar conta do ambiente. Esses “porta-vozes mais articulados do sonho californiano” simplesmente inauguraram um período das grandes bandas da América que viriam a fazer um sucesso estrondoso, colocando singles de sucesso na Billboard e inaugurando uma era de expansão do rock and roll difundido por Elvis Presley, Chuck Berry e Little Richards. Tudo começou com um movimento: a surf music. Os Beach Boys conduziram esse movimento, tal qual sua música ia se espalhando por toda a América e fazendo milhares de jovens enlouquecerem, usando a sua imaginação e querendo estar em uma praia com sua namorada no meio do calor. Foi na onda desse movimento que canções como “Surfin’ U.S.A.” e “Surfer Girl”, ambos de 1963. Desde então, a imagem do grupo californiano com camisas listradas em azul e branco ficou no imaginário social.
É uma história de origem. O grupo passou por algumas iterações nos primeiros anos, mas o filme captura como eles fundiram grupos de harmonia como o Four Freshmen com o surfer-rock de Dick Dale para criar algo que parecia refrescantemente novo. Eles também definem alguns conflitos que moldariam a banda, já que o gênio musical Brian Wilson frequentemente se encontrava em conflito criativo com o primo e vocalista Mike Love. Brian queria ficar em casa e escrever; Mike queria estar na estrada. A certa altura, havia realmente dois Beach Boys diferentes, um no estúdio e outro na estrada. A sugestão de que os Beach Boys se tornaram famosos em parte porque conseguiram recriar seu som ao vivo de uma forma que outras bandas, até mesmo os Beatles, não conseguiam na época, é uma das percepções mais fascinantes do documentário.
O movimento liderado pela banda californiana parece entrar em crise quando um novo movimento iniciado do outro lado do oceano por quatro garotos de Liverpool chega como uma explosão nos Estados Unidos. Os impactos da Invasão Britânica balançaram o território dos Beach Boys e revelou um sentimento de rivalidade de Brian com a banda de John Lennon e Paul McCartney. No meio dessa rivalidade, estava a briga pelas paradas de sucesso, com os Beatles e Beach Boys ponta a ponta pelo topo da Billboard. Seus álbuns também seriam gradualmente confrontados. Ao ouvir Rubber Soul dos Fab Four, Brian ficou dedicido ao entregar o melhor álbum possível. Foi então que Pet Sounds, o álbum mais perfeito até então já gravado, foi concebido. Foram 13 canções gravadas com o maior esforço durante mais de três horas de produção. Sua busca pela perfeição faria de Brian no gênio musical mais conhecido da América, e faria sua imagem se expandir na Inglaterra de uma forma assustadoramente divina por fãs britânicos.
The Beach Boys aborda também sobre o complicado legado da banda enquanto família. O documentário mergulha completamente no comportamento abusivo e controlador do patriarca Murry Wilson, que não era apenas violento, mas acabou vendendo o catálogo da banda apenas por US$ 700 mil dólares, valor de seus ciúmes pelos filhos mais talentosos que ele teve. Murry fora um músico que ensinou tudo aos seus filhos, e com uma rígida educação, tomou conta da situação. Até certo caminho, ele protegeu sua família, mas em um momento em que a criatividade de Brian estava acima de sua tutoria, Murry saiu do jogo por seu temperamento autocrático. Os conflitos familiares também são pontos fracos na carreira dos Beach Boys — além da saída momentânea de Brian, por problemas mentais — que ficou afetada por muitos álbuns irregulares no início da década de 1970.
Por toda a importância de seu legado, os Beach Boys sempre sobreviveram aos tempos pelos sucessos da surf music. O sentimento que Mike Love tem dos Beach Boys é que eles eram uma banda para tocar ao vivo, pois não conseguiriam realizar no estúdio o que Brian realizou. Muitos admiradores do grupo tem a opinião de que com Brian, a banda teria realizado mais nos anos pós-surf music. Nunca teremos uma conclusão definitiva sobre isso, mas o que sabemos é que The Beach Boys é o documentário digno que consegue apresentar às novas gerações os precursores do arquétipo de uma banda de rock americana.